Comunidade é contra retomada da mineração em Serra da Piedade
Audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais mostrou que a atividade mineral não é bem-vinda na região
A Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais (ALMG) realizou, em 20 de março, uma audiência pública que discutiu a
retomada da atividade mineral em Caeté, na Serra da Piedade, região
metropolitana de Belo Horizonte (MG). A comunidade local é contra e defende o
incentivo ao turismo no Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, que
inclusive, na opinião dos defensores, poderia sofrer danos com a mineração na
região. O santuário foi construído no século XVIII, em homenagem à santa que,
desde 1958, é a padroeira de Minas Gerais.
A rejeição à exploração mineral é explicada – além dos graves problemas recentes com as barragens em Minas Gerais – pela experiência negativa da comunidade com a mineradora Brumafer, que teve suas operações na região suspensas em 2005, deixando um grande passivo ambiental. Em 2012, a empresa AVG firmou um acordo com diversos órgãos estaduais, homologado pela Justiça, para recuperar o local atingido e explorar o minério disponível. O licenciamento ambiental para o empreendimento foi concedido pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) no último mês de fevereiro e a reacendeu a polêmica.
Contra a mineração
Autor do requerimento para a realização da audiência, o
deputado Professor Wendel Mesquita (SD) ressaltou a necessidade de preservação do
patrimônio histórico da Serra da Piedade para denunciar a “grave ameaça” que
seria a retomada da mineração no local. “Minerar para recuperar é como dizer
que vai tratar de um braço para amputar outro”, definiu o deputado João Vítor
Xavier (PSDB). Assim como os colegas Antonio Carlos Arantes (PSDB), Virgílio
Guimarães (PT) e Ana Paula Siqueira (Rede), ele destacou que aspectos
religiosos são um dos maiores motores do turismo, que seria a verdadeira
vocação da Serra da Piedade. “A região pode se transformar em uma Aparecida dos
mineiros”, ressaltou o deputado Professor Cleiton (DC), em referência à cidade
paulista, que recebe a visita de fiéis durante todo o ano. O parlamentar também
informou ter protocolado um projeto de lei que impede, imediatamente, a
exploração minerária no local. “É uma exploração irresponsável, vida de pessoas
estão em jogo”, salientou Dom Otacílio Lacerda, arcebispo auxiliar da
Arquidiocese de Belo Horizonte. “A mineração deixa morte, lama e prejuízos”,
concluiu Dom Geovane Luis da Silva, também arcebispo auxiliar.
A favor da mineração
O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), por sua vez,
apresentou requerimento para que a comissão realize uma visita à área de
exploração que tem gerado tanta divergência. O representante da mineradora AVG,
Bernardo Vasconcellos, ponderou que a empresa busca apenas cumprir o que já foi
negociado com os órgãos competentes e reconhecido pela Justiça. O acordo envolveu
os Ministérios Público Federal e Estadual, a Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a Fundação Estadual de Meio Ambiente
(Feam), o Instituto Estadual de Florestas (IEF), o Instituto Estadual de
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e o antigo
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Segundo Vasconcellos, diagnóstico realizado por técnicos
especialistas anexado à sentença judicial, de 2012, atesta que não é possível
recuperar a área degradada sem minerar, sem realizar intervenções para o
nivelamento do terreno e a correção da curvatura das cavas. Da área liberada
para exploração, 35 hectares não pertencem à região já degradada. Respondendo
ao deputado Mauro Tramonte (PRB), Vasconcellos informou que, inclusive, esse
diagnóstico nunca havia sido questionado.
O subsecretário de Estado de Meio Ambiente, Hidelbrando
Canabrava Neto, explicou que o mencionado acordo judicial estabelece uma
licença para a exploração de 29 milhões de toneladas, em 15 anos.
Foto: Omar Freire
Basílica Nossa Senhora da Piedade, em Minas Gerais
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